Por Juliana Garçon
Rio, 11/09/2025 – A primeira seleção de mineradoras interessadas em recursos do Fundo de Investimento em Participações (FIP) Minerais Estratégicos, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), já diminuiu de 700 para cerca de 100 o número de projetos em disputa. O fundo, que tem a Vale como cotista-âncora, poderá chegar a R$ 2 bilhões, afirma Mauro Barros, CEO da Ore Investments, escolhida em consórcio com a Régia Capital – gestora formada por Banco do Brasil e JGP – para administrá-lo.
“Começamos com cerca de 700 projetos em análise e estreitamos, reduzindo significativamente o número de empresas que poderiam receber os aportes nesta etapa inicial”, comenta.
A disputa é acirrada: o fundo planeja investir em torno de quatro empresas por ano, sempre de forma minoritária, totalizando aproximadamente 20 investidas. Serão priorizados projetos nas fases de pesquisa ou construção de minas de minerais críticos e estratégicos – lítio, terras raras, cobre, níquel e vanádio -, considerados essenciais para a transição energética, a indústria de alta tecnologia e a Defesa.
“Até o fim do ano pretendemos ter o fundo totalmente operacional e escolher ao menos uma empresa para receber um investimento. O objetivo é destravar valor em ativos pré-operacionais”, diz Barros.
O grande volume de inscrições mostra o interesse na exploração de minerais estratégicos, valorizados no mercado global, especialmente após as manifestações do governo Trump. Também reflete a escassez de capital para financiar empresas de pequeno porte e em fase pré-operacional.
Otimista com a captação, o gestor acredita que o FIP pode alcançar entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões, com a participação de investidores qualificados (com ao menos R$ 10 milhões aplicados), como fundos de pensão, family offices e outros fundos de investimento. Ao lançar o FIP, em outubro do ano passado, o BNDES estimava R$ 1 bilhão.
De acordo com o BNDES, sua subsidiária BNDES Participações (BNDESPar) e a Vale subscreverão cotas entre R$ 100 milhões e R$ 250 milhões cada, limitado a 25% de participação individual no capital comprometido total do fundo. Além disso, diz Mauro Barros, a cada R$ 2 captados pelos gestores, BNDES e Vale aportarão R$ 1 cada.
O interesse por minerais críticos, estratégicos ou raros também se reflete em outros movimentos da Ore Investments. Em julho, a gestora firmou acordo de até US$ 30 milhões com a australiana Viridis para participar do projeto Colossus, de terras raras, na cratera de Poços de Caldas (MG).
O FIP do BNDES será o segundo fundo de minerais estratégicos da gestora, que se especializa em participações no setor de mineração. O primeiro começou a captar em 2020 e levantou R$ 400 milhões, mais da metade (60%) no exterior. Os recursos financiaram minas de titânio e vanádio em Pernambuco, de zinco no Tocantins e de terras raras em Goiás.*
De olho nas demandas do agronegócio, o fundo adquiriu, em Minas Gerais, participação em uma mina de fosfato e calcário – insumos essenciais para fertilizantes, área em que o Brasil depende de importações. Ainda no Estado, investiu em um ativo de ouro, que precisa ser licenciado e construído.
A maioria dos investimentos avança conforme o previsto, diz o gestor, mas nem tudo são flores: a Ore também aportou recursos em uma mina de cobre, em Carajás (PA), que não atingiu o volume estimado e está em negociação com mineradoras australianas.
Risco e retorno
Num segmento de riscos elevados, as metas de retorno acompanham o patamar: o mercado trabalha com objetivos entre Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) + 20% e IPCA + 25%, explica o CEO da Ore. O ciclo médio das participações é de dez anos – quatro de investimento e seis de desinvestimento.
“É sempre hora de investir”, acredita o executivo, pois sempre há uma mina subvalorizada e uma oportunidade de gerar valor, apesar do cenário geopolítico. “O Brasil tem uma vocação tão forte para a mineração quanto para o agronegócio, mas a mineração não é tão bem compreendida.”
Mesmo com os percalços do setor, o Brasil surge como alternativa natural – em termos geográficos, geopolíticos e de recursos – à China, da qual o Ocidente depende para terras raras e grafita, avalia o gestor. “Nossas reservas, em alguns casos, são até mais significativas que as da China. Estamos entre os dez maiores detentores de vanádio, grafita, lítio, cobre, níquel, cobalto e nióbio, mas muitas vezes os depósitos não são explorados por falta de capital.”